“Nosso jogo tem 3 tempos”
Ao ouvir o psicólogo e educador Renato Paes de Andrade falar sobre a metodologia dos três tempos no esporte, que trata de utilizar o esporte como promoção da educação, identifiquei na sua fala, as metodologias desenvolvidas pelo Instituto IRIS, a qual, há mais de dez anos, utilizamos a arte como vetor educacional. O Instituto Fazer Acontecer está disseminando esta metodologia que ao que tudo indica nasceu na Colômbia como tentativa de afastar as crianças e adolescentes do tráfico.
Reunimos professores da rede municipal de ensino de Salvador, juntamente com os educadores do Projeto Canarinho para ouvir a experiência de Renato, mestre em saúde pública, que estudou o comportamento das torcidas de futebol no que tange à violência. É interessante perceber as mudanças de paradigmas que estão sendo propostas, mas que de alguma forma os educadores já sentem necessidade, porém, percebem a dificuldade que é mudar comportamentos, atitudes e práticas.
A metodologia dos três tempos sugeri, iniciar o jogo seja ele de qualquer natureza esportiva, com um acordo entre os jogadores do que é válido e do que não é, como “bater”, “xingar”, “empurrar” ou qualquer outra atitude comportamental negativa. Tudo é construído coletivamente entre os jogadores, as crianças e os adolescentes são eles os protagonistas do processo. O professor em todo o momento é um expectador que só interferi se houver necessidade, e neste momento ele se coloca como um facilitador do processo. Jamais o professor vai falar que está certo ou errado, ele estimula os alunos, mediante os acordos estabelecidos que façam as correções e intervenções nos jogos.
O segundo tempo é o momento de se colocar as regras esportivas específicas de cada modalidade e o terceiro tempo é o de discussão. Neste, os alunos/jogadores vão fazer uma auto avaliação e dialogar sobre si e sobre os outros. E em todos os jogos não há segmentação por idade e nem por gênero, crianças de sete anos podem jogar com adolescentes de quatorze anos, meninos jogam com meninas e a grande mudança de paradigma é que um não joga contra o outro e sim um joga com o outro.
Isto me lembrou um texto de Rubem Alves sobre Tênis e Frescobol: ”tênis é um jogo feroz, o objetivo é derrotar o adversário e sua derrota se revela no seu erro. E, o frescobol é parecido com o tênis, dois jogadores, duas raquetes e duas bolas, mas o erro é um acidente, é lamentado pelos dois”. A regra do jogo no frescobol é de ganha x ganha e no tênis é de perda x ganho.
O Projeto Canarinho desenvolvido pelo Instituto IRIS, propõe uma relação de ganha x ganha nas atividades esportivas e na vida de cada um dos nossos alunos já chamados carinhosamente de “canarinhos”. Nosso objetivo é superar as dificuldades oriundas da pobreza e da baixa qualidade da educação formal diretamente sofrida pelas crianças e adolescentes da Vila Canária, no que diz respeito à educação esportiva.
Izabel Portela é co-fundadora e superintendente do Instituto IRIS.