O TRIPÉ DA SUSTENTABILIDADE, por Izabel Portela.
Econômico, social e ambiental são os tripés da sustentabilidade. Palavra que está tão na moda e que se trata da junção harmoniosa dos capitais financeiro, social e ambiental.
Dos três elementos que compõem esse tripé, sob o ponto de vista das organizações privadas, o financeiro é o mais fácil de se obter os resultados, pois as empresas privadas têm no lucro financeiro todas as metas estipuladas e um alto poder de controle e de foco nestes resultados. Praticamente toda a organização está voltada para esse objetivo, de modo que tudo gira em torno dele. Está na essência das empresas privadas e do capitalismo o lucro financeiro como meta. E, nesse sentido, o campo privado tem desenvolvido diversas estratégias de excelência em gestão que podem ser transferidas para a gestão da sustentabilidade. Para isso, temos três passos a dar:
1. Estabelecer metas sociais e ambientais nas organizações;
2. Desenvolver estratégias para sua implementação;
3. Acompanhar os resultados e divulgá-los.
A Sustentabilidade é um dos cinco princípios conceituais da responsabilidade social, mais precisamente o quinto deles. Liderança é, pois, o primeiro. Inicialmente, para a implementação da cultura da responsabilidade social, é necessário que haja um líder, uma vez que, segundo o pesquisador Eliot Jaques, liderança é uma forma específica de influência, na qual uma pessoa ou organização – um líder – influencia uma ou mais pessoas ou organizações – os seus seguidores – a aceitar, com uma vontade genuína, os propósitos e objetivos estabelecidos pelo líder e orientar-se pela sua direção, demonstrando autoridade a partir de incentivos convincentes. Do contrário, é autoritarismo e não liderança.
O segundo princípio é o da Intencionalidade, que não se trata de ter boas intenções, e sim de contribuir, de fato, com a transformação social, com uma conduta ética, com o envolvimento em propósitos sociais e com a capacidade de escutar e interagir com agentes sociais.
O terceiro princípio é o do Envolvimento do Gestor. Este é um dos pontos mais cruciais e, possivelmente, o mais desafiador, pois os gestores privados em níveis gerenciais e de coordenação estão muito focados nas metas financeiras em função da lógica do lucro financeiro. E há muito pouco investimento de tempo no desenvolvimento de estratégias e metas sociais.
É necessário que haja uma visão do todo, da sociedade, do planeta, para que os gestores vejam a empresa fora da “caixa” e parte de um mundo muito maior, que é o planeta Terra.
O quarto princípio é o Conhecimento de Causa. Embora muito pouco praticado pelas empresas ao redor do mundo, é de extrema importância para que os resultados sociais sejam alcançados com eficiência e eficácia. Parece um contrassenso empresas investirem em mercados/negócios completamente desconhecidos sem fazer pesquisas prévias. Isso ocorre porque o simples repasse de recursos já é encarado pelas empresas como algo extraordinário. Algo tipo “estou dando o melhor de mim”, ou seja, o meu dinheiro, quando, na verdade, o que se busca é muito mais do que isso, é envolvimento, conhecimento e compromisso com os resultados.
O quinto e último princípio é o Compromisso com a Sustentabilidade, que, como dito acima, é preciso que haja um entendimento de que se trata da união do econômico com o social e com o ambiental, e que este compromisso reflete diretamente na sustentabilidade da própria organização. O termo sustentabilidade tem sido utilizado de forma restrita, em alguns momentos, tem sido utilizado como sinônimo de meio ambiente ou de perenidade de lucro.
É preciso que haja por parte da empresa um entendimento das demandas sociais locais de cada comunidade, do estabelecimento de parcerias e alianças com os três setores e a compreensão de que uma organização social não compete com a outra, assim como uma empresa privada não compete com a outra no momento em que se unem em prol de uma causa. Quanto mais organizações estiverem trabalhando por uma determinada causa social, maior a probabilidade de que esta causa seja reparada e transformada. E, dessa forma, o caminho para um mundo melhor, mais justo e igualitário esteja sendo construído com a participação de todos.
Izabel Portela é jornalista, mestre em administração pela UFBA e co-fundadora do Instituto de Responsabilidade e Investimento Social – IRIS.