Porque é tão difícil se investir na área social?

Trabalhando e pesquisando há sete anos a área social no Brasil chego a triste conclusão de que a visão assitencialista (mecanismo de compensação do mercado, que transferem para os excluídos as sobras geradas pelo processo de concentração) enraizada na cultura brasileira é realmente um dos grandes impedimentos a uma ação transformadora da bruta realidade social na qual vivemos.

Pensar em investimento social (recursos alocados com o objetivo de ganho para sociedade e que produzem riquezas econômicas) está longe de se tornar uma prática cotidiana pela maioria das empresas brasileiras. Por um lado, pela falta de conhecimento de como se fazer uma ação social estratégica e por outro lado pela visão puramente assistencial de se trabalhar com as pessoas excluídas da sociedade e a visão de gasto (“despesas que devem ser repassadas a sociedade em razão de emergências específicas ou da necessidade de pagamento de dívidas sociais”) e não de investimento nesta área.

Como podem os empresários brasileiros pensarem em sobrevivência das suas empresas se a pobreza cresce mais do que a riqueza no nosso país? Como podem eles pensarem que tirar parte do seu lucro para investir em programas de educação, saúde, meio ambiente, micro-crédito etc vai diminuir as suas riquezas? Como podem eles pensarem que o governo brasileiro sozinho vai dar conta deste recado?

Está na hora de acordarmos para a realidade. Vários movimentos já existem no nosso país com este propósito. É preciso que haja de fato um engajamento das empresas brasileiras nestas propostas espalhadas pelo país, coordenadas por organizações sérias e de competência como o GIFE- Grupo de Institutos, Fundações e Empresas e o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Sem falar nas milhares de ONGs que vêm desempenhado relevante papel na construção de modelos a serem seguidos pelo governo e transformado-os em políticas públicas.

Quando penso na busca desenfreada das empresas brasileiras em vender cada vez mais, nos chamados “nichos de mercado”, procurados pela maioria dos profissionais de marketing das empresas, penso automaticamente no grande nicho de mercado que são os 15% de brasileiros abaixo da linha de indigência e os outros 35% de brasileiros abaixo da linha de pobreza, temos então 50% da nossa população, em torno de oitenta milhões
de pessoas fora de qualquer perspectiva de qualidade de vida e portanto de inserção no mercado. O que seria das empresas brasileiras se estas pessoas passassem a ter renda suficiente para sobreviver, consumir os bens necessários para sua sobrevivência, não estou falando só de cesta básica não, estou falando do consumo de
bens de primeira, segunda e porque não terceira necessidade?!

Uma das formas das empresas agirem estrategicamente é utilizando o marketing social de forma correta como uma estratégia de gestão para a mudança de comportamentos, atitudes e práticas e não como uma promoção social ( qualquer estratégia utilizada para aproximar a demanda da oferta dos produtos sociais) ou como uma promoção comercial com cunho social.

Além disso é preciso que o investimento social não seja confundido com gasto social e que de fato se façam investimento social. Um exemplo do retorno deste investimento para a economia é o aumento da produtividade em relação aos anos de escolaridade, o nível
de produtividade econômica cresce consideravelmente.

Portanto, começando pela educação, com escola de qualidade, oportunidades de crescimento pessoal, desenvolvimento de habilidades, justiça, distribuição eqüitativa da renda e respeito aos direitos humanos acredito que possamos chegar um dia a uma sociedade sadia e a um país bom de se viver.

Izabel Portela é jornalista e mestre em administração
iportela@pop.com.br